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sábado, 3 de março de 2012

Book Review - A Peste

Imagem retirada de :
     
Albert Camus, A Peste. [Lisboa], Círculo de Leitores, 1988, 323 p.

Livro requisitado na Biblioteca João Soares

Desde os meus 15 anos que conheço esta história. No entanto tiveram que passar mais 15 para eu finalmente ler este famoso livro de Albert Camus. Não foi a minha estreia na leitura deste autor, em 2001 li "O Estrangeiro". Não sei se foi por estar de férias e de estar naturalmente mais tranquila, mas lembro-me que na altura esse livro impressionou-me muito e verifiquei que era um autor excelente. Não tive tanto esse impacto com este livro, embora a beleza da escrita me tenha muitas vezes feito abrandar o ritmo da leitura para apreciar as frases. Quando isto me acontece sei que estou perante um grande livro. 

P. 61: " Experimentavam assim o sofrimento profundo de todos os prisioneiros e de todos os exilados que vivem com uma memória que não serve para nada. Este próprio passado em que eles reflectiam sem cessar tinha apenas o gosto do arrependimento."

P. 67: "  Como um café tivesse anunciado que "quem vinho bebe, mata a febre", a ideia, já natural no público de que o álcool preservava das doenças infecciosas, fortificava-se na opinião geral. Todas as noites pelas 22 horas, um número considerável de bêbados expulsos dos café enchia as ruas e espalhava-se por elas com afirmações optimistas."

P. 68: " Com a ajuda da fadiga, ele deixara correr as coisas, tinha-se calado cada vez mais e não mantivera a sua jovem mulher na ideia de que era amada. Um homem que trabalha, a pobreza, o futuro lentamente fechado, o silêncio dos serões à volta da mesa - não há lugar para a paixão num tal universo."

P. 103: " Mas o narrador tenta-se mais a acreditar que, dando demasiada importância às belas acções, se presta finalmente uma homenagem indirecta e poderosa ao mal, pois deixaria então supor que estas belas acções só valem tanto por serem raras e que a maldade e a indiferença são forças motrizes bem mais frequentes nas acções dos homens. Essa é uma ideia de que o narrador não compartilha. O mal que existe no mundo vem quase sempre da ignorância, e a boa vontade, se não for esclarecida, pode fazer tantos estragos como a maldade. Os homens são mais bons que maus, e, na verdade, a questão não está aí. Mas ignoram mais ou menos, e é a isso que se chama virtude ou vício, sendo o vício mais desesperado o da ignorância, que julga saber tudo e se autoriza então a matar.

P. 149: "Evidentemente - acrescentava Tarrou -, ele está ameaçado como os outros, mas justamente está-o como os outros. Depois, não está seriamente convencido, tenho a certeza, de que possa ser atingido pela peste. Parece viver da ideia, não de todo tola, aliás, de que um homem que é presa de uma grande doença ou de uma angústia profunda está dispensado, ipso facto, de todas as outras doenças ou angústias. "Já reparou - disse-me ele- que não se podem acumular doenças? (...) a coisa ainda vai mais longe, pois nunca se viu um canceroso morrer de um desastre de automóvel. Falsa ou verdadeira, esta ideia põe Cottard de bom humor."

P. 192" - Em suma - disse Tarrou com simplicidade-, o que me interessa é saber como se pode ser santo.
-Mas você não acredita em Deus.
- Justamente. Pode ser-se santo sem Deus? Eis o único problema que hoje me preocupa."



2 comentários:

  1. Não são muitos os livros que nos fazem sentir isso, por isso é sempre óptimo sinal quando acontece. Quero ler este livro em breve; consta que é uma obra-prima :)
    Boas leituras!

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  2. Olá! Antes de mais parabéns pelo teu blog, sigo-o com frequência.

    Quanto a este livro de Camus, sugiro a sua leitura pois é muito bom. Tal como o que estou a ler neste momento: O Tio Goriot, de Balzac. O retrato das personagens e dos seus sentimentos é impressionante. São livros que ficam na memória, de uma forma quase inexplicável!!

    Boas Leituras!

    Ler nos Livros/Rita

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